sábado, 31 de maio de 2025

Carta para uma versão antiga de mim

Olá Helena!
Há bastante tempo que não nos falamos.
Talvez porque eu tenha passado os últimos anos, a tentar esquecer-te… ou, quem sabe, a tentar perdoar-te.

Sei que fizeste o que pudeste
Mesmo quando parecias não saber por onde ir, tu seguiste.
Tinhas medo, mas não paravas. Choravas escondida, e no dia seguinte sorrias como se estivesse tudo bem.
Eu lembro. Eu vi.

Às vezes, dou comigo a recordar coisas em que eu acreditava tanto.
Dos sonhos que hoje parecem ingénuos,
das pessoas que amei demais,
das vezes que me calei por medo de perder, ou de não ser suficiente.

Queria dizer-te que não falhaste.
Que o que parecia fraqueza era só cuidado demais, com o outro.
Que os erros que temes até hoje, foram, na verdade, tentativas sinceras de acertar.

Eu cresci.
Mudei tanto que, às vezes, nem sei mais quem sou.
Mas existem pedaços teus, aqui no meu jeito de sentir, na minha sensibilidade disfarçada, na minha força quieta.
Tu me ensinaste tudo isso, sem sequer perceber.

Se pudesse, hoje, eu te abraçaria.
Dir-te-ia que vai ficar tudo bem.

Não por magia, mas por esforço verdadeiro.
Vai doer. Vai cansar. Mas vai passar.
E tu vais ser alguém de quem te podes orgulhar.

Com carinho,
a Helena atual

MÃOS PEQUENAS, CORAÇÃO GRANDE

Já no top de vendas das livrarias.

sexta-feira, 30 de maio de 2025

Quando Não Se Sabe Parar

Há momentos em que o maior ato de coragem é parar. Em uma sociedade que valoriza a produtividade constante, o movimento ininterrupto e o acúmulo de conquistas, parar pode parecer fraqueza. Mas não saber parar é, muitas vezes, o caminho mais direto para o esgotamento, para a perda de si mesmo e para decisões impensadas.

Não saber parar pode se manifestar de diversas formas: insistir em um relacionamento que já não tem afeto, manter-se em um trabalho que consome a saúde mental, continuar um projeto que já perdeu o sentido, ou simplesmente não dar a si mesmo o direito ao descanso. A linha entre persistência e teimosia é tênue, e atravessá-la sem perceber pode custar caro.

Parar não é desistir. Parar é reconhecer limites. É entender que o tempo não é inimigo e que recomeços também exigem pausas. Parar pode ser o início de um novo ciclo, mais saudável, mais consciente. É o momento de respirar, de se ouvir, de recalcular a rota.

Saber parar exige maturidade. Exige ouvir o corpo, as emoções, os sinais sutis da vida. Exige coragem para dizer "basta" mesmo quando tudo ao redor grita "continue". Porque o verdadeiro sucesso não está em nunca parar, mas em saber a hora certa de fazer isso.

Parar, às vezes, é o que salva.

MÃOS PEQUENAS, CORAÇÃO GRANDE
Já no top e nas livrarias.

quinta-feira, 29 de maio de 2025

DADINHA e o reencontro com o caminho profissional


Conheço-a e sou sua amiga há muitos anos. Não me lembro de ter tido uma casa que não tivesse a sua marca. Às vezes ela chegava mudava  o lugar a três ou quatro móveis e tudo parecia diferente e mais acolhedor. A partir de certa altura, antes de fazer qualquer transformação, dava-lhe um telefonema de socorro e tudo parecia ter sido amplamente pensado e escolhido.

Durante os últimos anos, ela teve o privilégio de viver uma etapa profundamente transformadora e silenciosa da sua vida: dedicou-se integralmente à sua família. Foi um tempo de escolhas conscientes, de presença plena e de aprendizagens que, embora não constem em currículos formais, a enriqueceram de maneira inestimável.

Antes disso, teve uma trajetória profissional intensa e reconhecida, que lhe proporcionou grandes conquistas, parcerias valiosas e crescimento constante. Agora, com novos equilíbrios estabelecidos, todos – amigos e antigos clientes- sentimos que é o momento de ela voltar. De reencontrar o seu lugar no mundo do trabalho com o mesmo comprometimento, curiosidade e paixão que sempre a acompanharam.

Voltar com serenidade, com vontade de contribuir, aprender e, acima de tudo, de construir novas histórias – com o mesmo profissionalismo de antes, mas com uma bagagem humana ainda mais rica.

E, acredito, todos os que fizeram parte do seu caminho até aqui e os que, de alguma forma, se cruzaram com esta nova etapa, vão ficar felizes de a terem, de novo, a dar alma às suas casas. 

AS AGRURAS DA VIDA

Tenho tentado, dia após dia, vencer as agruras da minha via.
Não falo de feitos heroicos nem de grandes reviravoltas.
Falo de o simples acordar quando o sono é um refúgio,
de sair da cama, quando o corpo pesa mais do que parece justo.

É uma luta silenciosa — ninguém a vê, mas eu sinto-a.
Cada passo que dou custa mais do que mostro,
mas sigo, mesmo trémulo, mesmo incerto.

Vencer, às vezes, é apenas não ceder.
É responder a uma mensagem quando tudo em mim se quer calar.
É preparar o café, mesmo sem vontade de comer.
É sorrir para alguém, só para lembrar que ainda sou capaz de sentir algo leve.

Não tenho respostas definitivas,
só esse impulso teimoso que me faz continuar,
mesmo quando o mundo parece girar ao contrário.

E talvez, só talvez, isso já seja uma forma de vitória.

MÃOS PEQUENAS, CORAÇÃO GRANDE
Já no top e nas livrarias.

terça-feira, 27 de maio de 2025

FILOSOFIA DE VIDA


A expressão "filosofia de vida" refere-se habitualmente a um conjunto de princípios, valores, crenças e atitudes que uma pessoa adota para orientar a sua existência. É uma espécie de bússola pessoal, que ajuda o indivíduo a dar sentido à vida, a tomar decisões, a enfrentar desafios e a relacionar-se com o mundo.

Diferente, contudo, da disciplina académica, a filosofia de vida é mais prática e subjetiva. Ela pode ser influenciada por diversas fontes: experiências pessoais, ensinamentos religiosos ou espirituais, correntes filosóficas, tradições culturais, entre outras. Algumas pessoas desenvolvem a sua filosofia de forma consciente e refletida, enquanto outras a constroem de maneira mais intuitiva e empírica, ao longo do tempo.

Uma filosofia de vida pode incluir ideias sobre o propósito da existência, a importância das relações humanas, o valor do trabalho, a maneira de lidar com o sofrimento, o papel da ética e da responsabilidade, entre outros temas fundamentais. Por exemplo, alguém pode adotar uma filosofia baseada no estoicismo, buscando manter o equilíbrio emocional diante das adversidades, ou no hedonismo, priorizando o prazer e a felicidade, como objetivos principais da vida.

Ter uma filosofia de vida não significa ter todas as respostas, mas sim cultivar uma atitude reflexiva diante da vida, buscando coerência entre pensamento e ação. Ela serve como uma orientação pessoal face à complexidade do mundo, ajudando o indivíduo a viver de maneira mais autêntica, consciente e alinhada com os seus próprios valores.

Em resumo, a filosofia de vida é a arte de viver com propósito, reflexão e sentido. É um exercício contínuo de autoconhecimento e crescimento pessoal, que acompanha o ser humano ao longo de toda a sua trajetória.

MÃOS PEQUENAS, CORAÇÃO GRANDE
Já no top e nas livrarias.

segunda-feira, 26 de maio de 2025

SER O MELHOR OU SER MELHOR?

Desde pequenos somos incentivados a buscar o primeiro lugar — ser o melhor na escola, no desporto, no trabalho. Mas, com o tempo, percebi que há uma diferença enorme entre ser o melhor e ser melhor.

Ser o melhor é uma meta voltada para o exterior. É uma comparação constante com os outros. É olhar para o lado e medir o próprio valor pela performance alheia. É competição, muitas vezes alimentada por ego, vaidade ou necessidade de reconhecimento.

ser melhor é um caminho interno. É olhar para quem eu era ontem e decidir crescer. É sobre evolução pessoal, amadurecimento, empatia, superação. É uma jornada contínua, sem pódios, mas cheia de significado. Ser melhor é entender que posso errar, mas também posso aprender. É ter humildade para reconhecer limites e coragem para ir além deles.

Hoje, escolho ser melhor a cada dia. Melhor como pessoa, como amiga, como filha, como profissional. Não preciso provar nada ao mundo, só a mim mesmo. Porque, no fim de contas, a única competição saudável é comigo mesmo. E o verdadeiro sucesso está em progredir, não em vencer.

MÃOS PEQUENAS, CORAÇÃO GRANDE
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domingo, 25 de maio de 2025

A MAIOR DÁDIVA

Há momentos em que a vida silencia. Quando o barulho do mundo se distancia e, por um instante, tudo parece caber dentro do peito. É nesses instantes raros, quase sagrados, que compreendo que a maior dádiva não é o que se pode tocar, nem o que se acumula. É aquilo que se sente profundamente e, ainda assim, não se consegue explicar em palavras.

A maior dádiva é o amor. Mas não aquele que se vende nas vitrines ou se proclama nas redes. É o amor que pulsa em silêncio. Que se revela no olhar demorado de quem fica. Na presença que não exige, mas ampara. No abraço que não cura, mas consola.

É a memória viva de um gesto simples. O cheiro do café que lembra alguém. O sorriso inesperado no meio de um dia difícil. A mão que segura a nossa quando tudo parece escuro.

A maior dádiva é saber que, mesmo quando tudo falha -os planos, os caminhos, a força- ainda existe alguém ou algo que nos devolve à nossa essência. Uma criança que confia. Um animal que espera. Um pôr do sol que nos faz sentir pequenos, mas inteiros.

Não é preciso possuir muito para reconhecer uma dádiva. Só é preciso estar atento. Respirar fundo. Ouvir com o coração.

E, então, perceber que estar vivo, com tudo o que isso carrega - dores, amores, partidas, reencontros - já é, em si, a mais generosa de todas as dádivas.

MÃOS PEQUENAS, CORAÇÃO GRANDE
Já no top e nas livrarias.

sexta-feira, 23 de maio de 2025

OS LOW PROFILE

Eles não fazem alarde.
Não estão nos holofotes, não disputam aplausos, não colecionam likes.
Passam pela vida em silêncio, mas deixam marcas profundas.
São aqueles que preferem a profundidade à exposição, a escuta ao discurso, a presença ao espetáculo.

Os low profile não precisam provar nada.
Sabem quem são e, por isso mesmo, não gastam energia a tentar convencer o mundo.
Não querem ser o centro — querem paz.
Não buscam atenção — buscam sentido.

Enquanto muitos falam alto para serem ouvidos, eles observam.
Enquanto o mundo corre, eles respiram.
Enquanto todos tentam parecer, eles apenas são.
Serenos, discretos, atentos.
Carregam o universo inteiro nos detalhes, no jeito como olham, no que escolhem calar, no cuidado com as palavras que deixam escapar.

Não confundas silêncio com ausência.
Eles estão, mesmo quando não aparecem.
E talvez estejam mais inteiros do que muitos que brilham o tempo todo.
Porque a sua luz não cega, mas aquece.
A sua presença não se impõe, mas acalma.

São como aquele livro na estante que poucos notam,
mas que muda tudo, para quem o decide abrir.

MÃOS PEQUENAS, CORAÇÃO GRANDE
Já no top e nas livrarias.

Talvez um dia

Talvez um dia, as coisas façam sentido.
Talvez as palavras, que ficaram presas na garganta, encontrem o seu caminho para fora, sem medo, sem dor, sem atraso.

Talvez um dia, a saudade se transforme em lembrança leve,
e não mais, em peso que aperta o peito, nas noites silenciosas.
Talvez o tempo, esse velho sábio teimoso ensine, com delicadeza,
em vez de dar lições à força.

Talvez um dia, entendamos por que certos caminhos se cruzaram,
só para depois se perderem.
Ou talvez não. E tudo bem, também.
Porque há beleza no mistério, há força na incerteza,
e há amor mesmo naquilo que não ficou.

Talvez um dia…
Mas por enquanto, nós seguimos — passo a passo,
com o coração aberto e o olhar curioso.
Porque talvez o "um dia" seja hoje, disfarçado de agora.

Talvez um dia, as respostas venham sem pressa,
como quem sussurra em vez de gritar.
Talvez o silêncio, que hoje incomoda
amanhã seja só paz, e não ausência.

Talvez um dia, a coragem venha vestida de rotina,
e o recomeço não pareça tão assustador.
Porque, no fundo, nós recomeçamos o tempo todo —
em cada amanhecer, em cada escolha pequena, que ninguém vê.

Talvez um dia, a gente pare de exigir tanto de si,
e entenda que viver, também é permitir-se falhar,
errar o caminho, tropeçar, voltar.
E que isso não é fraqueza — é ser humano.

Talvez um dia, as mãos que hoje estão vazias
sejam as mesmas que acolhem,
outras mãos, outros destinos.
Talvez o amor venha simples, sem urgência,
como um sol que nasce sem fazer alarde.

Mas até lá, nós continuamos.
Remendando os dias, bordando esperanças,
cuidando das feridas com paciência.
Porque talvez o mais bonito de tudo
não seja o “um dia”, mas o “por enquanto”.

MÃOS PEQUENAS, CORAÇÃO GRANDE
Já no top e nas livrarias.

quinta-feira, 22 de maio de 2025

AS CIRCUNSTÂNCIAS


As circunstâncias moldam o cenário da vida, mas não determinam, por si sós, o enredo. Elas são como o vento que sopra: às vezes a favor, outras contra — e, em muitos casos, imprevisível. São os contextos, os imprevistos, os ambientes e os acontecimentos que nos cercam e que influenciam as nossas escolhas, os nossos sentimentos e os nossos destinos.

Há quem viva sob a sombra das circunstâncias, acreditando que nada pode ser feito diante do que se impõe. No entanto, a história mostra que grandes transformações surgiram, justamente, em momentos adversos. Quando tudo parecia contrário, algumas pessoas encontraram, não um obstáculo final, mas uma oportunidade para se reinventar, crescer e superar.

Ignorar as circunstâncias é ingenuidade. Submetê-las à vontade, por outro lado, é coragem e sabedoria. A diferença está na forma como reagimos a elas. Não escolhemos onde nascemos, nem o tempo em que vivemos, mas podemos escolher como responder àquilo que nos é dado.

As circunstâncias mudam, para o bem ou para o mal. São passageiras, voláteis. Saber reconhecê-las, aceitá-las quando necessário, e enfrentá-las quando possível, é o caminho para uma vida mais consciente e autêntica. A arte está em não ser refém do que nos rodeia, mas também não se fechar ao que pode nos ensinar.

Em última instância, as circunstâncias não definem quem somos — apenas revelam do que somos feitos. 

segunda-feira, 19 de maio de 2025

Solidão digital: conectados com todos, próximos de ninguém


Há dias em que o telemóvel vibra sem parar — e mesmo assim, parece que ninguém nos chama de verdade. A notificação pisca, a conversa começa, o emoji sorri… mas o coração continua quieto. É um novo tipo de silêncio, que se esconde no barulho constante da internet.

Estamos sempre “online”. Sempre por perto. Sempre ao alcance de uma mensagem. Mas, no fundo, sentimos que algo falta. Falta os olhos nos olhos, o toque sem filtro, a conversa que não precisa ser interrompida por um “espera só um segundo”, enquanto alguém responde outra coisa, a outro alguém, em outro local.

Vivemos rodeados de gente e, ao mesmo tempo, sozinhos no nosso próprio quarto. Olhamos as fotos, mas não sentimos o cheiro. Vemos sorrisos, mas não escutamos o riso. Falamos com muita gente, mas raramente com profundidade. Trocar palavras não é o mesmo que se fazer presente.

Talvez o problema não seja o digital. O problema surge quando o digital ocupa o lugar do humano. Quando uma piada vira consolo, quando uma story vira conversa, quando o contato se limita à tela. O que antes era ponte virou parede. O que era aproximação, virou fuga.

E é estranho, porque nunca tendo tido tantas formas de falar, andamos com tanta dificuldade de dizer o que sentimos. Fingimos bem. Mostramos os momentos bons. Escolhemos o filtro certo. Mas por dentro, quantas vezes gritamos no silêncio de um “visto às 18:43”?

A verdade é que estamos cansados de respostas rápidas. Começamos a querer presença. Querer escuta de verdade, não só reações. Querer uma ligação que demore. Uma visita sem aviso. Um café sem telemóvel na mesa. Porque queremos, mesmo, é ser lembrados, fora do algoritmo. Porque, no fim, o que preenche não é o número de seguidores. É aquele amigo que aparece quando tudo desaba. Aquela conversa às 2h da manhã que ninguém posta, mas que salva. Aquele abraço que não precisa de legenda. Conectar é fácil. Difícil, mesmo, é estar.

Mas se nos lembrarmos disso, se fizermos o caminho de volta para a presença, para a verdade, para o toque, talvez essa solidão silenciosa vá, aos poucos, abrindo espaço pra vínculos reais. Talvez consigamos voltar a ser gente. De carne, osso… e alma. 

A POLÍTICA PARTIDÁRIA E A DESILUSÃO NACIONAL


É difícil manter alguma fé na política em Portugal quando, eleição após eleição, o cenário muda tão pouco — ou muda para pior. Para quem observa de fora do círculo da militância cega, a política partidária tornou-se um jogo viciado, mais preocupado em manter interesses instalados, do que em resolver os problemas reais do país. A cada quatro anos, os mesmos rostos com promessas recicladas ocupam os ecrãs e os palanques, falando do futuro com palavras gastas pelo uso e pela falta de resultados.

A política em Portugal parece não funcionar para o cidadão comum, mas sim para os partidos, como se estes fossem fins em si mesmos. As decisões não são tomadas com base em consensos ou em visões de longo prazo, mas sim em cálculos eleitorais. A agenda nacional está frequentemente refém de guerrilhas partidárias, onde o mais importante é marcar pontos contra o adversário, mesmo que isso implique bloquear reformas urgentes ou perpetuar ineficiências.

Não é surpresa, por isso, que os resultados eleitorais revelem um país cada vez mais cético, polarizado e, acima de tudo, desiludido. A abstenção cresce, os votos brancos e nulos aumentam, e as franjas radicais — alimentadas pelo desespero e pela descrença — ganham força. Muitos já não votam por convicção, mas por medo do "pior". Outros votam contra o sistema, mesmo que esse voto traga mais instabilidade.

O problema não está apenas nos partidos em si, ou nas redes sociais e as suas falsidades, mas na forma como a política partidária domina tudo. Os deputados devem obediência cega às direções partidárias, em vez de responderem aos eleitores que os elegeram. As juventudes partidárias funcionam como escadas de carreira política, e não como laboratórios de ideias. O mérito raramente conta tanto como a lealdade interna. E as redes com os seus falsos perfiz só perturbam.

Enquanto a política for um palco onde os partidos lutam entre si como se estivessem em guerra permanente, ao invés de colaborarem para o bem comum, Portugal continuará a andar em círculos. O país precisa de reformas profundas — políticas, sociais e institucionais — mas com este sistema viciado, só resta aos descrentes esperar por uma mudança que dificilmente virá de dentro.

sexta-feira, 16 de maio de 2025

A SURPRESA


Ontem, fui surpreendida por um gesto que aqueceu o meu coração. Recebi um presente lindo, de uma empresa de beleza de que sou fã. Um dos seus mais conhecidos produtos – a celebre caixinha azul da Nívea - vinha transformada de forma muito especial. A tampa, como podem ver na foto, em lugar dos caráteres habituais, tinha uma imagem minha com meus dois filhos em pequenos. Foi entregue na minha editora, no Dia da Mãe, mas só agora me chegou às mãos

Pode parecer algo simples, mas ver um momento tão nosso, tão cheio de afeto, estampado ali com tanto cuidado e delicadeza emocionou-me profundamente. Não é só um presente, é uma lembrança que agora carrego com mais carinho ainda.

Fico imensamente grata a quem pensou nisto com tanta sensibilidade. Pequenos gestos assim, lembram-nos da beleza que existe na atenção aos detalhes, no olhar humano por trás das marcas, e na capacidade que algumas ações têm de nos tocar de verdade.

Muito, muito obrigada! 💛

A Consciência — Um Sussurro Silencioso

Há algo em nós que observa tudo. Não fala alto, mas está sempre lá — um sussurro que escuta, que sente, que pesa. A consciência. Essa presença íntima, quase invisível, que mora entre o que somos e o que mostramos.

Ela desperta no silêncio dos nossos pensamentos, nas pausas entre as decisões, na dúvida antes da palavra dita ou escrita. Às vezes parece leve, como um afago que nos guia com ternura. Noutras, pesa como pedra no peito, lembrando-nos do que tentamos esquecer ou fingir que não vemos. A consciência não se cala facilmente. Ela insiste. Espera. Persiste.

É aquela voz que não engana, mesmo quando tudo ao redor parece justificar os nossos deslizes. Ela não julga — apenas mostra. Ilumina aquilo que preferiríamos deixar no escuro. E, nessa luz, temos duas escolhas: encarar ou fugir. Mas fugir da consciência é tentar escapar de si. E ninguém consegue correr da própria sombra.

Há momentos em que ela nos salva. Quando tudo parece ruir, é a consciência que nos reconecta ao que é verdadeiro. Ela sabe o que, lá no fundo, já sabíamos. Ela não precisa de provas, nem de testemunhas. Basta existir.

Ser consciente não é estar certo o tempo todo. É ter coragem de olhar para dentro, mesmo quando dói. É aceitar que somos imperfeitos, mas ainda assim responsáveis. É fazer perguntas difíceis, mesmo sem garantia de resposta.

A consciência é o espelho mais honesto. E talvez, por isso, seja também o mais temido. Mas é nela que mora a liberdade — não a liberdade de fazer tudo, mas a de ser inteiro. De viver em paz com aquilo que ninguém vê, mas que sabemos. E saber, às vezes, é tudo.

 

quarta-feira, 14 de maio de 2025

A Banalização da Mediocridade

Vivemos numa época em que o medíocre não apenas é tolerado, mas celebrado. A mediocridade, outrora vista como um estado a ser superado, tornou-se confortável, aceitável — e, pior, desejável. Ser “ok” é o novo ideal. Destacar-se, ao contrário, pode ser visto como arrogância ou desnecessário esforço.

A banalização do medíocre não ocorre de forma explícita. Ela se insinua suavemente, mascarada de inclusão, de acessibilidade, de "cada um no seu tempo". Mas há uma diferença entre acolher processos distintos de crescimento e nivelar por baixo todo o campo de jogo. Quando o elogio se distribui de maneira igual para o esforço mínimo e o trabalho genuinamente notável, há um esvaziamento da excelência.

Na arte, a mediocridade veste-se de tendências. Na educação, de pedagogias que confundem empatia com complacência. No trabalho, de produtividade mínima mascarada por discursos sobre saúde mental importante, sim, mas às vezes usada para justificar descompromisso. No quotidiano, a mediocridade encontra terreno fértil no culto ao "tá bom assim", quando o "melhor possível" seria mais justo.

A banalização do medíocre é uma forma sutil de desumanização. Porque o ser humano é, por essência, um projeto em expansão, um impulso de superação. Aceitar o medíocre como norma é trair a nossa vocação mais íntima: a de crescer, aprender, aprimorar. Não se trata de elitismo, mas de respeito ao potencial humano.

Talvez devêssemos resgatar o desconforto como uma bússola. Nem todo incómodo é opressão — alguns são convites ao salto. Cultivar o incómodo com o medíocre pode ser, portanto, um ato de resistência. Não contra o outro, mas contra a anestesia do espírito.

A excelência não é evidentemente um pedestal. É uma direção.

terça-feira, 13 de maio de 2025

E QUANDO TUDO VEM NO TEMPO ERRADO?

Quantos de nós não teremos, já, sentido que tudo o que esperamos, vem fora de horas?

Ah, caros amigos… às vezes, até parece que a vida se diverte com a nossa pressa. Fazemos planos, traçamos rotas, arrumamos as malas, com expectativa. E então, justamente quando estamos prontos, nada acontece. Ou pior: acontece tudo, mas fora de horas.

O amor aparece, quando decidimos cuidar só de nós mesmos. A oportunidade surge à nossa porta, quando já entregamos as chaves da casa. A coragem chega, quando o risco já passou. E a sorte… bem, essa gosta mesmo de se atrasar.

Mas, no meio deste desalinho, há uma beleza mansa. Uma espécie de poesia torta. Porque o que vem fora do tempo, ensina mais do que aquilo que chega a horas. Aprendemos a rir das ironias, a abraçarmo-nos no meio do caos, e até a encontrar sentido, mesmo quando o roteiro falha.

Quem sabe se, talvez, o tempo errado, não seja só o tempo certo disfarçado? Um convite da vida para dançar fora do compasso, tropeçar um pouco, e ainda assim seguir em frente. Afinal, quem é que disse, que tudo precisa acontecer na hora exata, para dar certo?

segunda-feira, 12 de maio de 2025

NOVAS FAMÍLIAS

As novas famílias são como um reflexo das mudanças do mundo em que vivemos. Elas não seguem mais um único molde, nem se limitam a um conceito fixo de união e estrutura. Cada vez mais, as famílias se reinventam, se adaptam, se reconfiguram, e isso não é algo a ser temido, mas celebrado. Porque a verdadeira essência de uma família está no afeto, no cuidado, no olhar atento para as necessidades de cada um, e não na rigidez de um modelo pré-determinado.

Hoje, a ideia de família transcende a ideia tradicional de um homem, uma mulher e filhos. Ela inclui pessoas que se escolhem, que se juntam por vínculos afetivos, por afinidades de alma, por escolhas que, muitas vezes, desafiam os padrões estabelecidos. Famílias compostas por avós que são pais, tios que são figuras maternas, amigos que se tornam irmãos e casais que constroem um lar sem seguir convenções.

Neste cenário, as novas famílias encontram força em suas próprias histórias. Elas se tornam lugares de acolhimento para todos que buscam um lar, um abraço, um ponto seguro. E o que torna cada uma dessas novas formações especiais é justamente o fato de que elas refletem uma humanidade mais ampla e plural, onde o amor não precisa de justificativas, apenas de presença.

E, assim, as novas famílias ensinam algo precioso: a família não é apenas uma instituição social; é a escolha de estar junto, de caminhar ao lado de quem se ama, seja por laços biológicos, afetivos ou escolhidos. Elas revelam que, em tempos de mudança, o que importa não é a forma, mas o conteúdo; o que importa é o sentimento, o cuidado e a união. Na sua diversidade, elas lembram-nos que o importante é estar em sintonia com o outro, no respeito às diferenças, e que o amor, esse sim, é universal.

domingo, 11 de maio de 2025

SÓ POLÍTICA E FUTEBOL


Fui almoçar com um grupo de amigos. À nossa volta só se discutia eleições e futebol. Porque é que em Portugal só se fala destes temas?

É engraçado como certos assuntos dominam as conversas em diferentes contextos. Em Portugal, as eleições e o futebol são dois tópicos que geram muito interesse e paixão. As eleições, porque envolvem diretamente o futuro do país, as políticas públicas e as decisões que afetam a vida de todos. O futebol, por sua vez, tem uma importância cultural enorme em Portugal – é uma verdadeira paixão nacional, com clubes e seleções que geram uma ligação emocional forte entre as pessoas.

É natural que estas conversas surjam em grupo, já que são temas que afetam muitos aspetos da sociedade portuguesa e provocam muitas opiniões e debates. Além disso, futebol e política são áreas em que as pessoas tendem a se sentir mais envolvidas, com todos tendo uma opinião, mesmo que não sejam especialistas.

Eu, confesso, não consigo suportar o nível que atingem estas lutas intestinas, que deviam ter como único objetivo o bem-estar dos portugueses e o desenvolvimento do país. Onde andam eles, no que nos tentam vender, entre insultos e ofensas pessoais?

Felizmente fazia sol, o mar parecia plano, o almoço e a companhia foram ótimos e eu pude celebrar o nascimento da minha querida mãe!

sexta-feira, 9 de maio de 2025

GOSTAR DE SI


Gostar de si próprio é uma jornada silenciosa e muitas vezes solitária, onde as palavras se tornam um sussurro interno que ecoa mais alto do que qualquer elogio externo. É olhar no espelho e, pela primeira vez, ver algo além das imperfeições e falhas, algo além do reflexo que a sociedade molda e cobra. É perceber que, por mais que o mundo exija ser mais, fazer mais, conquistar mais, a única exigência verdadeira, é ser fiel ao que se é, com todas as suas complexidades e sutilezas.

Gostar de si próprio não é sinónimo de perfeição. Não se trata de uma aceitação cega das nossas falhas, mas sim da coragem de reconhecê-las sem julgamento. É entender que, às vezes, falhamos, mas isso não diminui a nossa essência. Esse gostar de si é um processo constante de aprendizagem, onde a auto compaixão se torna a chave para aliviar a dureza da autocrítica, e a empatia consigo mesmo se torna o alicerce para uma vida mais leve e mais verdadeira.

Quando se começa a gostar de si próprio, descobre-se que o amor-próprio não é egoísmo, mas um requisito essencial para que se possa dar ao outro o melhor de nós. Só quem tem uma relação saudável consigo mesmo pode nutrir relações genuínas com os outros. Esse amor, tão discreto quanto forte, não exige aplausos, nem reconhecimento externo. Ele cresce nas pequenas atitudes diárias – num sorriso sincero ao acordar, numa pausa para respirar, num gesto de carinho consigo mesmo, quando ninguém está olhando.

Gostar de si próprio é permitir- ser, sem pressa de se transformar em algo que se acredita dever ser. É abraçar-se nos momentos de vulnerabilidade e ver a beleza que há naquilo que é imperfeito. É ser o próprio refúgio, a própria casa onde se encontra a paz, mesmo quando o mundo lá fora parece um caos. E talvez, no fim, gostando de si, descubra que o mais importante não é ser aceito pelos outros, mas sentir-se em paz com quem se é.

Encontrar o "eu" em "nós"


Por muito tempo, julguei que amar era ceder. Que estar com alguém - amar de verdade - significava abrir mão de partes de mim, para manter o "nós" a funcionar. Pensava que compromisso era sinónimo de sacrifício, que crescer em conjunto era diminuir-se sozinho.

E então fui dizendo menos o que eu pensava, fui aceitando o que eu não queria, fui colocando as vontades do outro na frente das minhas. Não porque me obrigaram, mas porque eu pensava que era assim. Que esse, era o preço de não estar só.

Mas, aos poucos, fui-me perdendo. Como quando nos olhamos no espelho e sentimos que há algo fora do lugar, mas não sabemos exatamente o quê? Eu sentia isso. Uma espécie de ausência de mim, dentro da minha própria vida. Como se eu me tivesse transformado num personagem coadjuvante, numa história que devia ser minha também.

Levou tempo a ter consciência. Eu estava em "nós", mas não estava em mim. E é difícil admitir isso. Porque se tem medo do conflito, da rejeição, do rótulo de egoísta. Medo de que, se nós começarmos a escolhermo-nos, o outro vá embora.

Mas e se quem vai embora, no fundo, é só quem se acostumou a ver-nos ficar calados?

Encontrar o "eu" em "nós" foi um processo dolorido, mas libertador. Precisei reaprender a escutar-me. A entender o que era meu, e o que eu só repetia para agradar. Aprendi a dizer "não" sem culpa, a sustentar o desconforto de ser honesta. E, talvez o mais difícil, aprendi a aceitar que algumas relações não sobrevivem quando paramos de nos anular.

Hoje, entendo que o "nós" mais belo é aquele onde os dois podem ser inteiros. Onde o amor não pede silêncio, mas escuta. Onde a presença do outro soma, mas não substitui.

Não quis mais encaixar-me em moldes que não sejam meus. Quero conexões que respeitem o que sou, mesmo quando isso significa desencontros temporários, conversas difíceis, limites firmes. Porque o amor que agora me interessa é o que me permite existir por completo. Sem recortes. Encontrar o "eu" em "nós" foi, afinal, um reencontro comigo. E desse, sim, eu não abro mão.

quarta-feira, 7 de maio de 2025

GOSTO DO OUTONO E DO ENTARDECER


Passeei hoje por Campo de Ourique. A tarde estava deliciosa. Depois de uma bica tomada após uma ótima caminhada, fiquei na esplanada a gozar a pequena liberdade de quem resolve não pensar em trabalho e decide fazer uma pausa.

O entardecer é uma das poucas coisas que me fazem sentir que o tempo é mais do que uma sequência de minutos. Ele tem algo de acolhedor, uma suavidade que abraça a alma. Quando o sol começa a despedir-se, a luz mistura-se com as sombras, criando um quadro de tons quentes, quase como se o céu fosse uma tela pintada lentamente, sem pressa. E esse momento parece refletir o que o outono faz em mim. Há algo de introspetivo, de sereno, nessa estação. Não é mais o calor de verão, nem a rigidez do inverno. O outono tem a leveza da mudança e a doçura da transição.

Assim como o outono que desabrocha sem pressa, o entardecer parece convidar à reflexão, à pausa. O tempo desacelera, o ar fica mais fresco, e as cores tornam-se mais profundas, quase misteriosas. Cada folha que cai parece ter uma história, e eu, a cada passo, sou mais consciente de minhas próprias histórias, de como me desfaço e me reconstruo, assim como a natureza. Há algo profundamente íntimo no outono e no entardecer, uma conexão silenciosa com o mundo que pede para ser sentida, não explicada.

É um momento de quietude, de olhar o horizonte e perceber que tudo passa, mas com uma beleza que se renova. O entardecer e o outono têm essa característica única: são efémeros, mas deixam-nos algo imortal, algo que é só nosso enquanto o sol se põe e as folhas caem, e o mundo continua, silencioso, mas pleno.

Mãos pequenas, coração grande

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terça-feira, 6 de maio de 2025

ESCOLHEMOS OU NÃO?

Escolhemos como sentimos? Ou, na verdade, as nossas emoções acontecem quase sem que as possamos perceber? Às vezes, parece que estamos no controle das nossas reações, como se pudéssemos decidir, no meio do caos, como vamos lidar com o que sentimos. A sociedade até nos ensina que temos esse poder, que podemos escolher não ser dominados pela raiva ou pela tristeza, e que podemos, sim, buscar a felicidade, mesmo nas situações difíceis.

Mas será que a escolha é realmente nossa? Muitas vezes, as emoções surgem sem aviso, e ficamos imersos em sentimentos que não escolhemos. A raiva, a saudade, o medo... elas aparecem de repente, sem pedir licença. E, por mais que tentemos controlar, parece que a mente tem a sua própria vontade. Como se, por um instante, fôssemos apenas espectadores de algo que se desenrola dentro de nós, sem que possamos fazer muita coisa.

É curioso perceber que, embora tentemos racionalizar tudo o que sentimos, as emoções parecem vir de um lugar profundo, algo que não conseguimos controlar, mas que está lá e faz parte de quem somos. No entanto, há também momentos em que conseguimos, com algum esforço, criar um espaço entre o que sentimos e a forma como reagimos. Não no sentido de negar o que estamos a sentir, mas de dar um passo atrás e perceber que talvez, naquele momento, haja uma escolha.

Acho que a beleza disto está em saber que, muitas vezes, as emoções são imprevisíveis. E, talvez, ao invés de tentar entender tudo, possamos apenas aceitar esse fluxo natural. Sentir é algo tão humano, tão espontâneo, que talvez a verdadeira escolha seja aprender a estar em paz com o que se sente, seja o que for, sem pressa de controlar ou mudarParte superior do formulário

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segunda-feira, 5 de maio de 2025

RACIONALIDADE OU SENSIBILIDADE?

Esta é uma pergunta profunda que envolve filosofia, psicologia e até biologia humana. Tanto a sensibilidade quanto a racionalidade são essenciais para a felicidade, mas a predominância de uma sobre a outra pode depender do contexto e da personalidade de cada indivíduo.

Sensibilidade:

  • Respeita as emoções, empatia, intuição e a capacidade de se conectar com os outros.
  • É o que nos permite sentir prazer, amor, beleza e compaixão — elementos fundamentais da felicidade.
  • Pessoas mais sensíveis costumam valorizar experiências subjetivas, relações afetivas e sentido de vida.

Racionalidade:

  • Refere-se à lógica, planeamento, análise e tomada de decisões baseadas em fatos.
  • É o que nos ajuda a evitar impulsos destrutivos, planear o futuro e resolver problemas.
  • Pessoas mais racionais tendem a ter mais controle emocional e estabilidade, o que também favorece a felicidade a longo prazo.

A felicidade plena geralmente vem do equilíbrio entre sensibilidade e racionalidade. A sensibilidade dá-nos profundidade emocional, enquanto a racionalidade fornece direção e estabilidade. Um excesso de sensibilidade pode levar à vulnerabilidade emocional; um excesso de racionalidade pode gerar frieza e isolamento.

Um bom caminho pode ser aquele que eu me esforço por praticar: sentir com intensidade, mas escolher com sabedoria.

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Até dezembro!

Às vezes, as palavras não são suficientes para uma despedida. Não porque o que se sente é grande demais para ser expresso, mas porque a verdadeira despedida ainda não chegou. Não é um adeus, mas uma pausa. Não é o fim, mas uma interrupção temporária, como uma vírgula que pede um novo começo.

"Até dezembro", disse ele, com um sorriso no rosto que não se sabia se era de tristeza ou de mistério. Porque em dezembro, tudo poderia ser diferente. Ou talvez nada mudasse, e tudo continuasse como estava, mas isso não importava. O simples fato de saber que o tempo, implacável e silencioso, passaria entre agora e então, trazia consigo uma sensação de que o mundo ainda tinha algo a oferecer. Algo que não seria revelado até aquele momento.

Dezembro... Quem poderia dizer o que ele traria? Talvez fosse o momento do reencontro. Ou talvez fosse o fechamento de um ciclo. Talvez fosse uma porta que se abriria para algo completamente novo, uma surpresa aguardada, mas desconhecida. E talvez, no final, tudo o que ele queria dizer era isso: a vida não é feita apenas de encontros e despedidas, mas de momentos suspensos, onde o tempo se estica e o futuro se desvela lentamente, como uma cortina que se abre aos poucos.

Mas por agora, “Até dezembro” era o suficiente. Era um convite à espera, ao mistério. Um lembrete de que o amanhã nunca é certo, mas sempre vale a pena ser aguardado.

E assim, ele se foi. Mas sem ir, porque dezembro estava lá, no horizonte, como uma promessa.

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sábado, 3 de maio de 2025

AINDA ERA ELA

Ninguém a chamava mais pelo nome. Era "a mãe do Sérgio", "a mãe da Helena", "a mãe do Zé", “a mãe”. E ela sorria – porque amava ser tudo isso. Mas nunca deixou de ser, também, "ela mesma".

Acordava antes de todos. Bebia um café, calçava os ténis e saía para a caminhada matinal. O mundo ainda estava em silêncio, e era só dela. Tinha os seus livros na cabeceira, as suas ideias anotadas em cadernos escondidos, os seus projetos, os seus sonhos. Criou os filhos com amor, com presença, com histórias contadas no escuro e conselhos dados entre garfadas.

Mas, enquanto ensinava o caminho, também trilhava o seu. Estudou, amou, dançou. Teve amigas que os filhos nunca conheceram e viagens que não incluíam perdas de tempo. Nunca pediu permissão para continuar sendo mulher – apenas foi.

E no fim, quando a casa estava mais silenciosa e os quartos raramente acesos, ela sentia uma espécie de paz que não vinha da ausência, mas da entrega. Os filhos tinham partido – não para longe, mas para as suas próprias vidas. E ela não os prendia com telefonemas ansiosos, nem visitas inesperadas. Aprendera que o amor verdadeiro sabe o momento de se recolher.

Agora, sentada à varanda e vendo o sol descer atrás dos prédios, pensava: "Cumpri. Fiz o que pude. Dei tudo o que tinha. Posso continuar a ser eu."

Porque ainda era ela. Inteira. Pronta para outras histórias. Não um recomeço – porque nunca havia parado. Apenas uma nova página, escrita com mãos que já embalaram, mas que, agora, estavam prontas a colher.

Tinhas razão. querida mãe. Por isso não te esquecemos!

sexta-feira, 2 de maio de 2025

As saudades do que não aconteceu

Um dia perguntaram-me de que é que eu tinha mais saudades. Esperei um instante. Não pensei em pessoas, nem em lugares, nem em momentos passados. A resposta veio-me com uma certa melancolia: "Daquilo que não fiz."

Porque há uma dor estranha, silenciosa, que habita no que não chegou a ser. No beijo que não se deu, na viagem que se adiou, na conversa que não se teve coragem de começar. É como se a vida nos deixasse sempre à beira de um caminho alternativo, feito de possibilidades que se apagaram, antes mesmo de existirem.

É fácil lembrar o que vivemos. Há memórias, há fotografias, há provas. Mas o que não fizemos... isso vive apenas dentro de nós, numa zona onde o tempo não toca, mas onde a imaginação insiste em voltar. E nessas voltas criamos versões do que podia ter sido: se tivéssemos dito sim, se tivéssemos arriscado, se tivéssemos amado sem medo.

Talvez a saudade do que não fiz não seja só arrependimento. Talvez seja também uma forma de aprender. De perceber que cada escolha é uma renúncia, e que o tempo não perdoa indecisões eternas. Mas ainda assim, é uma saudade que pesa — porque o que não fizemos, paradoxalmente, continua a fazer parte de nós.

E por isso, hoje, se me voltarem a perguntar de que tenho mais saudades, não hesito: daquilo que não fiz. Porque esse vazio é meu, é único, e é nele que encontro a vontade de não deixar o futuro escapar pelos mesmos silêncios.

Mãos pequenas, coração grande

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OSZAR »