quarta-feira, 7 de maio de 2025

GOSTO DO OUTONO E DO ENTARDECER


Passeei hoje por Campo de Ourique. A tarde estava deliciosa. Depois de uma bica tomada após uma ótima caminhada, fiquei na esplanada a gozar a pequena liberdade de quem resolve não pensar em trabalho e decide fazer uma pausa.

O entardecer é uma das poucas coisas que me fazem sentir que o tempo é mais do que uma sequência de minutos. Ele tem algo de acolhedor, uma suavidade que abraça a alma. Quando o sol começa a despedir-se, a luz mistura-se com as sombras, criando um quadro de tons quentes, quase como se o céu fosse uma tela pintada lentamente, sem pressa. E esse momento parece refletir o que o outono faz em mim. Há algo de introspetivo, de sereno, nessa estação. Não é mais o calor de verão, nem a rigidez do inverno. O outono tem a leveza da mudança e a doçura da transição.

Assim como o outono que desabrocha sem pressa, o entardecer parece convidar à reflexão, à pausa. O tempo desacelera, o ar fica mais fresco, e as cores tornam-se mais profundas, quase misteriosas. Cada folha que cai parece ter uma história, e eu, a cada passo, sou mais consciente de minhas próprias histórias, de como me desfaço e me reconstruo, assim como a natureza. Há algo profundamente íntimo no outono e no entardecer, uma conexão silenciosa com o mundo que pede para ser sentida, não explicada.

É um momento de quietude, de olhar o horizonte e perceber que tudo passa, mas com uma beleza que se renova. O entardecer e o outono têm essa característica única: são efémeros, mas deixam-nos algo imortal, algo que é só nosso enquanto o sol se põe e as folhas caem, e o mundo continua, silencioso, mas pleno.

Mãos pequenas, coração grande

À venda em todas as livrarias.

1 comentário:

Pedro Coimbra disse...

Lisboa é óptima para ter todas essas sensações.
Nunca visitei uma cidade com uma luz natural semelhante a Lisboa.

OSZAR »