Passeei hoje por Campo de Ourique. A tarde estava deliciosa. Depois de uma bica tomada após uma ótima caminhada, fiquei na esplanada a gozar a pequena liberdade de quem resolve não pensar em trabalho e decide fazer uma pausa.
O entardecer é uma das poucas coisas que me fazem sentir que
o tempo é mais do que uma sequência de minutos. Ele tem algo de acolhedor, uma
suavidade que abraça a alma. Quando o sol começa a despedir-se, a luz mistura-se
com as sombras, criando um quadro de tons quentes, quase como se o céu fosse
uma tela pintada lentamente, sem pressa. E esse momento parece refletir o que o
outono faz em mim. Há algo de introspetivo, de sereno, nessa estação. Não é
mais o calor de verão, nem a rigidez do inverno. O outono tem a leveza da
mudança e a doçura da transição.
Assim como o outono que desabrocha sem pressa, o entardecer
parece convidar à reflexão, à pausa. O tempo desacelera, o ar fica mais fresco,
e as cores tornam-se mais profundas, quase misteriosas. Cada folha que cai
parece ter uma história, e eu, a cada passo, sou mais consciente de minhas
próprias histórias, de como me desfaço e me reconstruo, assim como a natureza.
Há algo profundamente íntimo no outono e no entardecer, uma conexão silenciosa
com o mundo que pede para ser sentida, não explicada.
É um momento de quietude, de olhar o horizonte e perceber que
tudo passa, mas com uma beleza que se renova. O entardecer e o outono têm essa
característica única: são efémeros, mas deixam-nos algo imortal, algo que é só
nosso enquanto o sol se põe e as folhas caem, e o mundo continua, silencioso,
mas pleno.
Mãos pequenas, coração grande
À venda em todas as livrarias.
1 comentário:
Lisboa é óptima para ter todas essas sensações.
Nunca visitei uma cidade com uma luz natural semelhante a Lisboa.
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